QUIMERA
- CVT
- 19 de out. de 2017
- 2 min de leitura
I
No pequeno jardim de dez por quatro,
Um pastor alemão feroz e astro,
Inquieto ou sonolento no canil;
Roseiras, goivos, cravos e jasmins,
Madressilvas, orquídeas nos xaxins,
Pendurados à sombra no gradil.
II
A casa de paredes cor de rosa,
Em meio ao verde da vegetação.
Área larga, comprida, espaçosa,
Enfeites e bordados no charão.
Almofadas... A rede também rosa...
Rádio-vitrola e televisão.
Brancas cortinas, brisa buliçosa,
Ostracismo, quietude, solidão.
E sobre a relva rala do quintal,
Aves e lebres, em comum abrigo,
À sombra da roupagem no varal.
Morno regaço, coração amigo,
Os lenitivos, bálsamo ideal,
Assim meus sonhos de ilusão contigo
III
Assim também a vida, doce encanto,
Em plena apoteose da ventura,
Nesse querido e rútilo recanto;
Na exaltação feliz da criatura,
Cativa por afeto sacrossanto,
Das graças e primores da natura.
Manhãs de sol, gorgeios e falenas,
De típicos cantares no arremedo,
A brisa ciciante no balcedo
Nas noites estreladas e amenas.
Alma exultante, livre de dilemas,
No meu viver tranquilo, quieto, ledo,
Nessa casinha à sombra do arvoredo,
Sem mágoas nem pesares ou problemas.
IV
Nas bebidas prudente e com cuidados,
Pouco antes de cada refeição,
Uma dose de pinga com limão
E nacos de coelhos defumados.
No repasto frugal, bem preparados,
Com muitos tratos na alimentação,
Costeletas, virado de feijão,
Torresmos e dois ovos estalados.
De quando em vez, um frango ao molho pardo,
Salada de quiabos e angú;
Às sobremesas, dentro de resguardo,
Ameixa em calda, mangas ou cajú;
O cafezinho “ao paladar” de um bardo,
No desjejum: aveia e leite crú.
V
Pós o repasto, o fumo em esperais,
Durante alguns minutos boa prosa,
Mas sobre assuntos simples e banais.
Depois então, a sesta ociosa,
Com sonhos de carinhos sensuais,
Na maciez da rede cor de rosa.

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